domingo, 25 de novembro de 2007

Mestrado profissional: igualando a competitividade???

(Luiz FernandoFerrari) Muito tem sido comentado sobre o crescimento do número de cursos de Mestrado Profissionalizante. Em certas áreas talvez seja até mesmo justificado tal fato, devido ao número reduzido de oportunidades de um profissional se aperfeiçoar e se aprofundar em algum tema relacionado. Entretanto, do ponto de vista prático, o que parece ser uma modalidade a mais de inserção de um profissional no mundo da pesquisa – nem que seja apenas para “familiarizá-lo com metodologias, como dizem alguns defensores do MP” -, pode se tornar mais um empecilho na já tão difícil inserção no mercado de trabalho. É notória a dificuldade de um estudante de Pós-Graduação em encontrar um emprego ao final de seus anos de dedicação à área acadêmica. A procura por concursos públicos, a grande concorrência em se conseguir uma vaga em Faculdades particulares, entre outras, estão entre as maiores dificuldades encontradas pelos recém-Mestres e Doutores. Dessa forma fica a pergunta: para quê serve o MP? A atual Diretoria da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) tem estimulado o surgimento de mestrados profissionais – atualmente mais de 200 cursos de MP estão em andamento. Embora seja descrito como um “título terminal, que se distingue do acadêmico porque este último prepara um pesquisador, que deverá continuar sua carreira com o doutorado, enquanto no MP o que se pretende é imergir um pós-graduando na pesquisa, fazer que ele a conheça bem, mas não necessariamente que ele depois continue a pesquisar”, ainda parece que a diferença entre os cursos de MP e os cursos de especialização é pequena. Em linguagem clara, normalmente podemos distinguir duas situações: 1) o recém-formado não está satisfeito com seu conhecimento, sentindo necessidade de se aperfeiçoar. Nada mais natural que ir em busca de cursos de aperfeiçoamento, atualização ou até mesmo de especialização. Nestes, ele terá que desembolsar uma certa quantia – nem sempre pequena – e terá, ao final do período, seu título de especialista, no caso de ter optado pela especialização. A situação número 2 é um pouco mais interessante: o profissional quer se especializar, adquirir mais conhecimento, se familiarizar com a vida acadêmica e as metodologias e, quem sabe, se inserir na vida docente. O Mestrado seria necessário, já que, para ser Professor Universitário, a “bagagem” deve ser mais consistente. Entretanto, como deixar de lado seu consultório, seu escritório, seu emprego, sendo que grande parte dos Programas de Pós-Graduação em nível de Mestrado exige dedicação integral? Surge no cenário os cursos de MP, nos quais o aluno comparece poucos dias por mês, durante um ano e meio, dois anos talvez, e termina o período com o título de Mestre. Dessa maneira justifica-se a definição de MP, que procura que o aluno“ (1) conheça por experiência própria o que é pesquisar, (2) saiba onde localizar, no futuro, a pesquisa que interesse à sua profissão, (3) aprenda como incluir a pesquisa existente e a futura no seu trabalho profissional.”. O interessante é que, em palavras, tudo isso parece beneficiar a todos, já que os profissionais podem ter mais uma oportunidade de se aperfeiçoarem e, ao mesmo tempo, “fazerem Ciência”. Isso de fato é bom? Perguntemos a um aluno de Pós-Graduação que teve que se afastar do trabalho (“é uma escolha pessoal”, diriam os defensores do MP), pois para conseguir uma Bolsa de fomento não pode ser vinculado a outro emprego, se dedicar horas a fio ao trabalho laboratorial, experimentos, leitura, etc: em um concurso, qual título vale mais, o do Mestrado acadêmico ou Profissional? Não há resposta diferente: os dois terão o mesmo peso. Isso é justo? Será que a justificativa de que os MP agregam competitividade e produtividade às empresas, públicas ou privadas, é consistente? Que tal pensarmos em inserir o profissional qualificado e competente, que se tornou um Mestre na área – ou Doutor – neste quadro? Se um dos problemas que temos com relação à Academia em nosso país é seu distanciamento da área produtiva, por que não estimular os Mestrados já existentes a se aproximarem do trabalho não-acadêmico também? Isto é dito por que, retornando à nossa pergunta inicial, podemos respondê-la, a frios olhos, que o MP é, na verdade, uma especialização que dá o título de Mestre. Seria diferente? Ainda assim, a competitividade no mercado “lá fora” não deveria ser dificultada pela criação de modalidades que tornam ainda mais árdua a busca pelo emprego ideal. Contudo, essa é uma discussão longa, e as opiniões se dividem. Para continuarmos a debater este tema, outras oportunidades aparecerão.

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