segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Mulher e Ciência: como anda essa relação?

Não é de hoje que percebemos a presença do dito “sexo frágil” nas diferentes áreas – as mulheres ganham cada vez mais espaço e dominam novos “territórios”. Entretanto, há algumas semanas atrás, a revista Época (24/09/2007) escreveu uma matéria chamando a atenção da sociedade para a escassez de “cérebros femininos” nos altos escalões da ciência brasileira e mundial; vale lembrar que Jacqueline Leta já havia levantado esta questão em 2003. Outros agravantes se somam a essa problemática e não se resume apenas a status, posições de prestígio e poder, mas refere-se também ao menor apoio das agências de fomento a pesquisa à formação das futuras pesquisadoras, fato constatado pelo reduzido número de bolsas no exterior, somente 33% do total, fornecido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A própria pesquisa também é prejudicada, já que apenas 1/3 das bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq estão em posse das cientistas. Esse cenário torna-se mais deturpado em algumas áreas como a física, onde as mulheres possuem apenas 3% das maiores bolsas de produtividade (1A). Na Europa, a participação das mulheres em programas de mestrado e doutorado não ultrapassa 36% dos estudantes e pior, quanto maior o cargo como pesquisador menor é a representação feminina, chegando a 9% no cargo de Pesquisador A (mais alto nível). Discriminações parecidas são observadas nos Estados Unidos, cujo relatório do comitê organizado para analisar a situação das mulheres no Massachusetts Institute of Technology documentou que os laboratórios chefiados por mulheres eram menores do que os dos homens. As causas de tantas diferenças são multifatoriais, mas podemos atribuí-las em parte ao aspecto cultural que nutre o meio científico, sabendo que este é um ambiente altamente conservador e como tal preserva seus paradigmas e ideologias arcaicas, principalmente nos centros mais tradicionais, com longa história. Aparentemente, este problema não pode ser imputado somente à vontade dos homens que “fecham as portas”, mas também as próprias mulheres que impedem o crescimento de seus pares com comportamentos como a não aceitação de estudantes do sexo feminino para estudarem em seus laboratórios durante a pós-graduação ou a falta de apoio aos projetos de pesquisa de suas colegas, pois acreditam que elas não têm condições de concluí-los no tempo previsto por possuírem, ou por poderem possuir, outras atribuições como ser mãe e ter que se afastar das atividades laborais por um determinado período. A resolução dessas discrepâncias deve caminhar em um sentido pacífico, de respeito e ajuda mútua entre os sexos em prol do objetivo comum de ambos, o desenvolvimento da ciência. Não podemos alimentar uma guerra entre homens e mulheres por cargos e outros interesses, afinal de contas, como disse a física americana Mildred Dresselhaus em entrevista à revista Época: “Talento não se substitui. Ele nasce onde ele nasce. Não escolhe sexo”.